TEM GENTE COM FOME
Solano Trindade foi uma das figuras mais expressivas e admiráveis da poesia negra no Brasil. Nasceu em Recife (PE) no ano de 1908, filho de Manuel Abílio Trindade, sapateiro e cômico de profissão, e de dona Emerenciana de Jesus, quituteira e operária. Desde muito cedo acompanhava o pai em suas danças de pastoril e bumba-meu-boi, e isto despertou no menino um forte interesse pelo folclore, o teatro e a cultura popular.
O que Solano fazia era pesquisar o que ainda sobrevivia daquelas tradições folclóricas, transformá-las em montagens teatrais e colocar o povo novamente em contato com elas.
Dotado de forte intuição, Solano sempre escreveu poesia. Os principais livros que publicou são Poemas de uma vida simples (1944), Seis tempos de poesia (1958) e Cantares do meu povo (1963).
Foi operário, comerciário, funcionário público, colaborador na imprensa, ator, pintor e teatrólogo. Morou no Rio de Janeiro durante a década de 40, e depois mudou-se para São Paulo, onde passou a maior parte de sua vida entre artistas e intelectuais. Foi um dos fundadores das renomadas feiras de arte e artesanato da cidade de Embu (SP), que hoje representa um verdadeiro pólo cultural na região.
Trindade também dedicou-se ao cinema, tendo inclusive participado como ator em alguns filmes. Seus poemas ganharam a admiração de músicos populares como o grupo Secos e Molhados, que musicou Tem gente com fome, seu poema mais célebre, e Mulher barriguda. Interpretada por Ney Matogrosso, a canção acabou se tornando um clássico da MPB.
Pesquisador e grande incentivador das nossas tradições populares, criou inúmeros grupos folclóricos, teatrais e de apoio à cultura afro-brasileira. O mais bem-sucedido deles foi o Teatro Popular Brasileiro, que enfatizava o gênero musical e as danças populares como o maracatu, com ricas e coloridas coreografias. Com este grupo, percorreu diversos países da Europa, e fez muito sucesso principalmente na Hungria, na Polônia e na Rússia.
Minha mãe conhecia as danças, e meu pai sabia montar. Esse grupo era formado por empregadas domésticas, artistas, professores e operários, e se apresentava nas ruas, em teatros e estádios, de forma a que todos tivessem acesso.
Biografia retirada do site http://www.cnr.com.br/novaalexandria/governo/info4/solano.htm
Tem Gente Com Fome
Solano Trindade
Trem sujo da leopoldina
Correndo correndo
Parece dizer
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Estação de caxias
De novo a dizer
De novo a correr
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tantas caras tristes
Querendo chegar
Em algum destino
Em algum lugar
Só nas estações
Quando vai parando
Começa a dizer
Se tem gente com fome
Dá de comer
Se tem gente com fome
Dá de comer
Se tem gente com fome
Dá de comer
Mas o freio de ar
Todo autoritario
Manda o trem calar
Psiuuuuuuuu.
Aproveito para parabenizar os alunos da EJA pela belíssima declamação ao escritor Luis Fulano de Tal na noite de 26/11.
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profª kelly